OSTEOPOROSE

Luiz S. G. Horta

DEFINIÇÃO

OSTEOPOROSE: doença metabólica sistêmica caracterizada por diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, com consequente aumento da fragilidade e suscetibilidade a fraturas1. Na infância e adolescência, caracteriza-se por uma densidade mineral óssea ou conteúdo mineral ósseo baixo (z-score ≤ -2,0, ajustado para a idade e sexo) associado à fratura clinicamente significativa5. Fratura clinicamente significativa é aquela resultante de traumas leves, arbitrariamente definida pela presença de: (1) mais que duas fraturas em ossos longos até a idade de 10 anos; (2) mais que três fraturas em ossos longos até 19 anos de idade; ou (3) uma ou mais fraturas vertebrais na ausência de trauma de alta energia ou doença local, independentemente da densidade mineral óssea5.

OSTEOPENIA: doença metabólica sistêmica caracterizada por diminuição da massa óssea sem comprometimento da microarquitetura11.

RAQUITISMO: doença metabólica sistêmica causada pela diminuição da mineralização óssea da placa epifisária de crescimento e do tecido osteóide1. Exclusivo de crianças em fase de crescimento1.

 

FATORES DE RISCO PARA A REDUÇÃO DA DENSIDADE MINERAL ÓSSEA

FATORES DE RISCO PARA REDUÇÃO DA DENSIDADE MINERAL ÓSSEA
FATOR DE RISCO OBSERVAÇÕES
FATORES INTRÍNSECOS
Sexo feminino  
Raça branca  
Hereditariedade  
Deficiência do hormônio do crescimento (GH)  
Deficiência do fator de crescimento insulina-símile (IGF-1)  
Deficiência de vitamina D  
Deficiência de esteróides sexuais (testosterona e estradiol)  
Excesso de cortisol  
Excesso de paratormônio (PTH)  
Excesso de hormônios tireoidianos  
FATORES EXTRÍNSECOS
Baixa ingestão de cálcio  
Baixa ingestão de vitamina C  
Baixa ingestão de vitamina D  
Baixa ingestão de vitamina K  
Consumo excessivo de refrigerante tipo "cola"  
Sedentarismo  
Diminuição dos exercícios de resistência  
Paralisias  
Imobilização  
Restrição ao leito  
Tabagismo  
Alcoolismo  
Doenças crônicas  
Uso de glicocorticóides  
Uso de anticonvulsivantes  

 

ETIOLOGIA DA OSTEOPOROSE

TABELA 2 - ETIOLOGIA DA OSTEOPOROSE
ETIOLOGIA OBSERVAÇÕES
OSTEOPOROSE PRIMÁRIA
OSTEOPOROSE IDIOPÁTICA JUVENIL (OIJ)

OIJ é uma condição rara (1:100.000 nascidos vivos) de curso autolimitado que acomete mais frequentemente o sexo masculino entre 8-12 anos de idade1.

QUADRO CLÍNICO: dor lombar insidiosa e progressiva (com ou sem fraturas vertebrais), artralgia (joelhos e tornozelos), cifose, escoliose, deformidades torácicas, claudicação e fratura de ossos longos1,6. A resolução espontânea é comum no final da puberdade, com o desenvolvimento da maturação esquelética1.

EXAMES:

  • EXAMES LABORATORIAIS:
    • Cálcio: normal1;
    • Fósforo: normal1;
    • Magnésio: normal1;
    • Fosfatase alcalina: normal1;
    • Reserva alcalina: normal1.
  • EXAMES RADIOLÓGICOS: fraturas metafisárias e de compressão vertebral; formação de osso osteoporótico (osteoporose neo-óssea), sem calo ósseo nos locais de fraturas1.

 

OSTEOGÊNESE IMPERFEITA (OI)

Doença dos "ossos de vidro": grupo heterogêneo de doenças do tecido conectivo caracterizado por fragilidade óssea e diminuição da DMO1.

Herança: autossômica dominante (maioria, por mutações nos genes COL1A1 ou COL1A22), autossômica recessiva ou ligada ao X (gene PLS3)1,2.

Incidência: 1:10.000-1:20.000 nascimentos1.

90% dos casos decorre de mutações nos genes que codificam a cadeia alfa do colágeno tipo 1 (COL1A1 e COL1A2), resultando em colágeno anormal ou em menor quantidade e predispondo a maior reabsorção óssea1. Mutações no gene PLS3,que codifica a plastina 3, uma proteína regulatória óssea, resulta em osteoporose ligada ao X6.

QUADRO CLÍNICO: fraturas espontâneas ou decorrentes de traumas leves; redução do crescimento pondero-estatural; ace triangular; platisbasia; invaginação basilar; esclera azulada; déficit auditivo; vetigem; dentinogênese imperfeita; frouxidão ligamentar ou da pele; hérnias; pés-planos; prolapso de valva mitral1,2.

DIAGNÓSTICO:

  • Fenotípico1;
  • SEQUENCIAMENTO DO GENE COL1A1 E COL1A2 EM SANGUE TOTAL (FLEURY, DELBONI AURIEMO);
  • Biópsia de fibroblastos1.

TRATAMENTO: bifosfonados1.

SÍNDROME DE MARFAN

Incidência: 2-3:5.000-10.000 nascimentos1.

Herança: autossômica dominante (75%) ou novas mutações (25%)1.

Etiologia: mutação do gene da fibrilina-1 (FBN1)(60-90% dos casos), localizado no cromossomo 151.

QUADRO CLÍNICO: alta estatura, proporções eunucóides, aracnodactilia, pectus excavatum ou carinatum, hipermobilidade articular, aneurisma de aorta (principal causa de morte)1.

 

SÍNDROME DE EHLERS-DANLOS  
SÍNDROME OSTEOPOROSE PSEUDOGLIOMA (OPPG)

É causada por mutações bialélicas do gene proteína relacionada ao receptor de lipoproteína de baixa densidade 5 (LPR5), um correceptor do WNT6. Caracteriza-se por osteoporose de início precoce e envolvimento ocular6.

Mutação heterozigota LRP5 causa somente osteoporose precoce6.

Mutações no gene WNT1, na forma heterozigótica, resulta em osteoporose e, na homozigótica, osteogênese imperfeita6.

HOMOCISTINÚRIA

Doença autossômica recessiva do metabolismo dos aminoácidos, causada pela deficiência da enzima cistationina-sintetase, resultando no acúmulo de homocisteína no sangue e homocistinúria1.

QUADRO CLÍNICO: alta estatura, hábito marfanóide, retardo mental, depressão, esquizofrenia, deslocamento do cristalino e propensão para trombose arterial e venosa1.

EXAMES:

  • LABORATORIAIS:
    • HOMOCISTEÍNA SÉRICA: elevada1.

TRATAMENTO:

  • Dieta: pobre em metionina1;
  • VITAMINA B61.
DOENÇA DE PAGET JUVENIL  
SÍNDROME DE HADJU-CHENEY

É causada por mutações no gene NITCH2 que comprometem a sinalização NOTCH, necessária para a diferenciação e funcionamento dos osteoblastos e osteoclastos6.

HIPOFOSFATASIA

Erro inato do metabolismo de herança autossômica recessiva (formas graves) ou autossômica recessiva e dominante (formas moderadas), causada por mutação do gene ALPL (que codifica a fosfatase alcalina (TNSALP: tissue-nonespecific alkaline phosphatase) e síntese deficiente de fosfatase alcalina, resultando em defeito na mineralização óssea e/ou dentária1.

Incidência: 1:300.000 (recém-nascidos com forma grave) e 1:6700 (formas moderadas)1.

QUADRO CLÍNICO: varia desde a forma grave com morte durante a gestação até formas leves com perda da dentição em adultos1.

TRATAMENTO:

  • FOSFATASE ALCALINA RECOMBINANTE1.

 

HIPERFOSTATASIA  
OSTEOPOROSE SECUNDÁRIA
OSTEOPOROSE INDUZIDA PELA IMOBILIDADE

Em crianças e adultos com imobilidade prolongada, as fraturas por traumas leves comumente afetam o fêmur distal e a tíbia proximal6.

ANOREXIA NERVOSA

Anorexia nervosa leva à desnutrição e um estado relativo de hipogonadismo hipogonadotrófico6. Há também redução da massa óssea e aumento no risco de fraturas6.

A tríade da atleta feminina, vista em jovens ginastas ou atletas, é , caracterizada por desordem alimentar, disfunção menstrual e osteoporose6.

Tanto a anorexia nervosa quanto a tríade da atleta feminina apresentam melhora da densidade mineral óssea com o ganho de peso e controle do ciclo menstrual6.

HEMOGLOBINOPATIAS: falcemia, talassemia  
HEMOFILIA  
LEUCEMIA

Leucemia linfocítica aguda (LLA) é a malignidade mais comum na faixa pediátrica e apresenta elevado risco de fratura tanto no momento do diagnóstico como nos primeiros anos seguintes6. Há um aumento de 80% no risco de fratura vertebral a cada redução de 1 escore na densitometria óssea6.

A maioria dos pacientes que se sobrevivem da LLA apresentam recuperação espontânea ou mediada pelo tratamento com bifosfonados da densidade mineral óssea6.

LINFOMA  
NEUROBLASTOMA  
DOENÇA DO ESTOQUE DE GLICOGÊNIO  
GALACTOSEMIA  
DOENÇA DE GAUCHER  
DOENÇA DE MENKES  
INTOLERÂNCIA À PROTEÍNA  
OUTRAS DOENÇAS
INFECÇÃO PELO HIV

A infecção pelo HIV provoca osteoporose por1:

  • Baixo peso;
  • Inflamação crônica;
  • Deficiência de vitamina D;
  • Deficiência de hormônio do crescimento;
  • Hipogonadismo;
  • Abuso de álcool e tabaco.
NEFROPATIA CRÔNICA

Nefropatia crônica causa osteoporose por1:

  • Aumento do fósforo sérico;
  • Diminuição da calcemia;
  • Redução da formação de 1,25(OH)Vit D
HEPATOPATIA CRÔNICA

A hepatopatia crônica provoca osteoporose por1:

  • Diminuição da absorção de cálcio e vitamina D;
  • Redução da hidroxilação da vitamina D para 25(OH) Vit D;
  • Diminuição da excreção de ácidos biliares;
  • Desnutrição.
SÍNDROMES MALABSORTIVAS

As síndromes de malabsorção intestinal causam osteoporose por1:

  • Redução da absorção de nutrientes (cálcio e vitamina D).
DEFICIÊNCIA DE HORMÔNIO DO CRESCIMENTO

A deficiência de hormônio do crescimento provoca osteoporose por1:

  • Redução da concentração de IGF-1 e, consequentemente, redução da formação óssea mediada por osteoblastos.
HIPOGONADISMO

O hipogonadismo e o consequente atraso puberal causam osteoporose por1:

  • Aumento da reabsorção óssea.
  • A deficiência estrogênica e androgênica reduzem a vida média dos osteoblastos e aumentam a osteoclastogênese.
HIPOTIREOIDISMO CRÔNICO

O hipotireoidismo crônico causa osteoporose por1:

  • Redução da atividade osteoblástica;
  • Aumento da atividade osteoclástica;
  • Diminuição da reabsorção intestinal de cálcio;
  • Diminuição da secreção urinária de cálcio;
  • Diminuição da secreção de GH;
  • Diminuição da secreção de esteróides sexuais;
  • Inibição da síntese de colágeno;
  • Fraqueza muscular decorrente do hipercortisolismo.
HIPERPARATIREOIDISMO

O hiperparatireoidismo provoca osteoporose por1:

  • Diminuição da mineralização esquelética;
  • Aumento da reabsorção óssea.
DIABETES MELITO TIPO 1

O diabetes melito tipo 1 provoca osteoporose por1:

  • Ausência da ação anabólica da insulina e proteínas derivadas das células beta (amilina).
MEDICAMENTOSA
GLICOCORTICÓIDES

OSTEOPOROSE INDUZIDA POR GLICOCORTICÓIDES (GIO - glucocorticoid-induced osteoporosis): causa secundária mais comum de osteoporose em crianças, afetando principalmente a coluna vertebral1.

Os glicocorticóides provocam osteoporose por diminuição da formação e aumento da reabsorção óssea1. A taxa mais elevada de perda óssea ocorre nos primeiros 3-6 meses de tratamento com glicocorticóides, seguido de um declínio lento com a persistência do uso4. Tanto doses diárias como cumulativas elevam o risco de fraturas, principalmente vertebrais4.

TRATAMENTO:

  • SUSPENSÃO DO TRATAMENTO GLICOCORTICÓIDE: com a cessação do uso de glicocorticóides, a massa mineral aumenta e o risco de fratura reduz4.
  • NA MANUTENÇÃO DO TRATAMENTO GLICOCORTICÓIDE:
    • ADULTOS:
      • DROGAS ANTI-REABSORTIVAS (BIFOSFONADOS): útil nos primeiros dois anos de tratamento com glicocorticóide, quando a atividade osteoclástica é aumentada1.
      • DROGAS FORMADORAS ÓSSEAS (TERIPARATIDA / PTH SINTÉTICO): são mais eficazes após 2 anos de tratamento com glicocorticóide1.
ANTICONVULSIVANTES (fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, ácido valpróico)

O uso de fenitoína, fenobarbital e carbamazepina está associado à redução da massa óssea e deficiência da vitamina D, resultando em aumento do risco de fratura vertebral6.

 

ANTIDIABÉTICOS ORAIS (pioglitazona, rosiglitazona)  
INIBIDORES DA AROMATASE (anastrozol)  
INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS (omeprazol, pantoprazol)  
ANTIRRETROVIRAIS  
ANTICOAGULANTES (heparina, cumarínicos)  
QUIMIOTERÁPICOS (metotrexate, ciclosporina, ifosfamida)  
HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (levotiroxina)  
ANÁLOGOS DO GnRH (leuprolida, triptorelina, goserelina)  
ANTIANDROGÊNICOS (acetato de ciproterona)  

 

QUADRO CLÍNICO

Geralmente, a osteoporose é assintomática1. A osteoporose sintomática em crianças tipicamente se apresenta co história de fraturas recorrentes por traumas leves ou moderada a severa dorsalgia5. A presença de cáries em adolescentes pode ser um sinal de osteoporose1. O diagnóstico pode ser inferido a partir do diagnóstico de doenças de base que cursam com osteoporose (ex.: osteogênese imperfeita, síndrome de Marfan, etc.)1.

Pacientes com osteoporose grave e múltiplas fraturas podem apresentar: baixa estatura, incapacidade de deambular (deformidades ósseas em membros inferiores), incapacidade de se cuidar e realizar as atividades da vida diária, dificuldade respiratória (fratura de vértebras e arcos costais) e distúrbios psicológicos (medo e ansiedade em relação à possibilidade de novas fraturas)1.

 

DIAGNÓSTICO

ABSORCIOMETRIA COM RAIOS-X DE DUPLA ENERGIA (DXA - DUAL-ENERGY X-RAY ABSORBTIOMETRY):

  • É o exame padrão-ouro para avaliar a densidade mineral óssea2, detectando perdas ósseas de até 5%1.
  • Locais de avaliação:
    • Adulto:
      • Corpo inteiro1;
      • Coluna lombar (L1-L4)1;
      • Colo femoral1;
      • Fêmur total1.
    • Crianças (conteúdo mineral ósseo expresso em g/cm2; densidade mineral óssea expressa em z-escore) :
      • Coluna lombar (L1-L4)1;
      • Corpo inteiro (excluindo a cabeça)1.
  • Resultados:
    • Crianças e adolescentes (emprega-se o Z-escore, número de desvios-padrão abaixo da média de indivíduos de mesma idade, sexo, tamanho [peso e altura] e etina do paciente1. O z-escore é empregado nos indivíduos com menos de 20 anos de idade5.):
      • Baixa densidade mineral óssea (DMO) para a idade cronológica: DMO < -2,0 desvios-padrão (Z-escore) da média de crianças da mesma idade e sexo1;
      • Osteoporose:
        • Uma ou mais fraturas de compressão vertebral na ausência de trauma de alto impacto e de doenças na coluna (não é necessário a DMO)1; ou
        • Baixa DMO + duas ou mais fraturas de ossos longos até os 10 anos de idade1; ou
        • Baixa DMO + três ou mais fraturas de ossos longos até os 19 anos de idade1.
        • -2,0 Z-escores abaixo da média com repercussão clínica1.
    • Adultos (mulheres na menacme e homens < 50 anos):
      • Baixa DMO para a idade = DMO ≤ -2,0 desvios-padrão (Z-escore) da faixa esperada para a idade1.
      • Osteoporose: baixa DMO + causa secundária (ex.: corticoterapia crônica)1.
    • Mulheres menopausadas e homens com idade > 50 anos (emprega-se o T-escore, número de desvios padrão abaixo da média de indicíduos jovens, do mesmo sexo, no pico da massa óssea - 20 a 30 anos de idade):
      • Osteopenia: DMO entre -1,01 e -2,49 desvios-padrão (T-escore) abaixo da média de adultos jovens1.
      • Osteoporose: densidade mineral óssea (DMO) ≤ 2,5 desvios-padrão (T-escore) da média de adultos jovens, sem a associação de fraturas patológicas1.
      • Osteoporose: densidade mineral óssea (DMO) ≤ 2,5 desvios-padrão (T-escore) da média de adultos jovens, com associação de uma ou mais fraturas patológicas1.

 

OUTROS EXAMES RADIOLÓGICOS

  • São pouco sensíveis para diagnosticar a osteoporose ou monitorar a resposta terapêutica1. Úteis para a investigação da etiologia e avaliar o comprometimento dos óssos vertebrais1.
  • RAIOS-X DE OSSOS LONGOS:
    • Osteoporose idiopática juvenil: fraturas metafisárias1;
    • Osteogênese imperfeita: fraturas diafisárias1.
  • RAIOS-X LATERAL DE COLUNA TORÁCICA E LOMBAR:
    • Avaliar as fraturas de compressão vertebral em pacientes com dorsalgia, deformidade de coluna ou redução de estatura1.
    • CRITÉRIOS DE GENANT: avaliação da redução de altura do corpo vertebral1,2:
      • Redução < 20% = grau zero (normal);
      • Redução entre 20-25% = grau 1 (leve);
      • Redução entre 25-40% = grau 2 (moderado);
      • Redução > 40% = grau 3 (severo).
  • RAIOS-X DE CRÂNIO:
    • Osteogênese imperfecta: alterações nos ossos wormianos1.

 

EXAMES LABORATORIAIS

  • HEMOGRAMA COMPLETO: descartar leucemia1.
  • URÉIA / CREATININA: descartar nefropatia1.
  • AST / ALT: descartar hepatopatia1.
  • PROTEÍNAS TOTAIS E FRAÇÕES: avaliar função hepática e albuminemia para correção do valor de cálcio sérico na presença de hipoalbuminemia1. Na hipoalbuminemia, o nível de cálcio total fica baixo, porém a fração biologicamente ativa permanece normal3. A correção matemática da calcemia poderá ser feita acrescentando-se 0,8 mg/dL no nível de cálcio para cada grama de albumina abaixo de 4 g/dL3.
  • CÁLCIO, FÓSFORO, MAGNÉSIO, FOSFATASE ALCALINA: descartar raquitismo, hipo ou hiperfosfatasia1.
  • SÓDIO, CLORO, POTÁSSIO, RESERVA ALCALINA: descartar acidose tubular renal1.
  • GLICEMIA: descartar diabetes melito1.
  • PROTEÍNA C REATIVA: descartar inflamação e/ou infecção1.
  • GASOMETRIA: descartar acidose tubular renal1.
  • TSH, T4 livre: descartar hipo ou hipertireoidismo1.
  • PTH intacto: descartar hiperparatireoidismo1.
  • URINA I1.

 

Observação:

Outros exames subsidiários podem ser necessários de acordo com a etiologia.

 

 

TRATAMENTO

TRATAMENTO PROFILÁTICO

  • ALIMENTAÇÃO RICA EM DERIVADOS DO LEITE E EM CEREAIS INTEGRAIS1.

 

ATENÇÃO:

Cuidado com a manipulação de pacientes com redução grave da DMO e história de múltiplas fraturas (ex.: osteogênese imperfeita) para evitar novas fraturas.

 

TRATAMENTO DA OSTEOPOROSE JÁ INSTITUÍDA

ABORDAGEM NÃO FARMACOLÓGICA

  • Corrigir a doença de base:
    • Suspender medicamentos associados à mineralização óssea deficiente1;
    • Doença celíaca: dieta sem glúten1;
    • Acidose tubular renal: reposição adequada de bicarbonato1;
    • Leucemia: quimioterapia1;
    • Hipogonadismo: adminstração de esteróides sexuais1;
    • Doença inflamatória intestinal: administrar medicamentos que promovam a remissão da inflamação1.
  • Suspender medicamentos causais1;
  • Estimular atividade física1:
    • Pacientes com redução moderada da DMO e deambulação normal:
      • Atividade física regular:
        • Pelo menos 60 minutos/dia1;
        • Atividades que promovam carga (andar, correr), considerando o risco de novas fraturas1;
  • Extimular exposição à luz solar1;
  • Alimentação com nutrientes ricos em cálcio e vitamina D1;
  • Deixar de fumar ou evitar o fumo passivo1;
  • Diminuir o consumo de bebidas alcoólicas, refrigerantes tipo "cola" e cafeína1;
  • Prevenção de quedas1:
    • Sapatos com solas antiderrapantes1;
    • Barras de apoio no banheiro e ao lado do vaso sanitário1;
    • Evitar uso de tapetes1;
    • Evitar medicamentos que deprimam a consciêncai ou que alterem o equilíbrio1.

 

ABORDAGEM FARMACOLÓGICA

  • INDICAÇÕES:
    • Pacientes que falham em responder às medidas iniciais1.
  • SUPLEMENTAÇÃO DE CÁLCIO E VITAMINA D:
    • DIETA RICA EM CÁLCIO E VITAMINA D;
    • REPOSIÇÃO DE CÁLCIO: deve ser realizada após a comprovação da deficiência de cálcio1.
      • CARBONATO DE CÁLCIO (40% de cálcio elementar): 40-75 mg/100Kcal/dia de cálcio elementar (máximo: 3 gramas/dia), VO, 8/8 horas1.
    • REPOSIÇÃO DE VITAMINA D:
      • Indicação: deve ser realizada nos casos de deficiência de vitamina D1.
      • Posologia: 800 a 2000 UI/dia1. Pacientes com doença de Crohn, uso de inibidores da bomba de prótons ou pós-cirurgia bariátrica podem necessitar doses maiores de cálcio e/ou vitamina D, ou a reposição na forma de citrato de cálcio1.

 

ALIMENTOS RICOS EM CÁLCIO
ALIMENTO CÁLCIO (mg)
Iogurte natural (1 xícara de chá) 415
Iogurte com frutas (1 xícara de chá) 345
Leite integral (1 xícara de chá) 291
Leite desnatado (1 xícara de chá) 302
Queijo mozzarella (1 fatia pequena) 120
Queijo branco (1 fatia pequena) 205
Sorvete de leite (1 xícara) 176
Espinafre cozido (1/2 xícara) 122
Batata assada (1 unidade média) 115
Brócolis cozido (1 xícara) 94
Hamburger com queijo (1 unidade) 135
Sardinha em conserva (100 gramas) 402
 

 

ALIMENTOS RICOS EM VITAMINA D
ALIMENTO VITAMINA D (1 µg = 40 UI)
Óleo de peixe (1 colher de chá) 400 UI
Sardinha enlatada (100 gramas) 300 UI
Atum (90 gramas) 230 UI
Fígado de boi (100 gramas) 50 UI
Iogurte (100 gramas) 90 UI
Fórmulas lácteas fortificadas (1 litro) 400 UI
Leite materno (1 litro) 20 UI
Leite de vaca (1 litro) 40 UI
Fonte: ALVES et al., 2018.

 

  • INIBIDORES DA REABSORÇÃO ÓSSEA - BIFOSFONADOS:
    • INDICAÇÃO:
      • pacientes com fragilidade óssea e fraturas de repetição1.
    • POSOLOGIA:
      • BIFOSFONADOS POR VIA ORAL (COMPRIMIDOS):
        • Bifosfonados por via oral são comumente usados no tratamento de osteoporose em adultos6. Com a devida cautela, na faixa etária pediátrica, bifosfonados orais devem ser reservados para as formas leves de osteogênese imperfeita sem fraturas vertebrais ou nos casos de fobia a agulha ou recusa ao tratamento parenteral6.
        • Os comprimidos de bifosfonados devem ser ingeridos pela manhã, em jejum, com um copo de água cheio (200 mL)1. O paciente deve estar sentado ou em pé e deve assim permanecer por, pelo menos, 60 minutos após a ingestão do medicamento1.
        • Pacientes acamados e crianças que não conseguem engolir o comprimido inteiro não podem usar bifosfonados por via oral1.
        • O café da manhã somente poderá ser tomado pelo menos 30 minutos após a ingestão do medicamento1.
      • BIFOSFONADOS DE USO PARENTERAL (INTRAVENOSO):
        • PAMIDRONATO intravenoso é o bifosfonado mais amplamente usado na faixa etária pediátrica6. Posologia do pamidronato: 0,5-1,0 mg/Kg/dia, IV, 1 vez ao dia, por 3 dias, a cada 3 meses6.
        • A administração intravenosa de bifosfonados pode causar uma reação de fase aguda (febre, dor óssea, mialgia, cefaléia) nas primeirs 48 horas após a primeira dose do medicamento1. Essa reação pode ser atenuada com a administração prévia de IBUPROFENO ou ACETAMINOFENO1.
    • DURAÇÃO DO TRATAMENTO:
      • Adultos com baixo risco de fraturas: o tratamento pode ser suspenso após 3-5 anos1;
      • Pacientes com risco elevado de fraturas: o tratamento pode ser superior a 3-5 anos1.
    • EVENTOS ADVERSOS:
      • Reação de fase aguda: ocorre dentro de 72 horas da primeira dose de bifosfonado em 85% das crianças, sendo caracterizado por febre, mal-estar, diarréia, náusea e mialgia6. Raramente ocorre nas doses subsequentes6.
      • Hipocalcemia, hipofosfatemia e aumento da proteína C reativa podem ser observados sem significância clínica6.
      • Fratura atípica de colo de fêmur: é de ocorrência rara, mas séria, cuja incidência aumenta com o tempo de exposição aos bofosfonados1.
      • Osteonecrose da mandíbula pode ocorrer em adultos, frequentemente em doenças ósseas metastáticas e insuficiência renal6.
    • RECOMENDAÇÕES:
      • Corrigir a deficiência de vitamina D antes de iniciar o tratamento com bifosfonado6.

 

BIFOSFONADOS
DROGA APRESENTAÇÃO COMERCIAL USO POSOLOGIA
ALENDRONATO
  • Comprimidos 10 e 70 mg: Alendil, Fosamax, Osteoform.
VO
  • < 20 Kg: 5,0 mg, VO, 1 vez/dia ou 35 mg, VO, 1 vez/semana1;
  • > 20 Kg: 10 mg, VO, 1 vez/dia ou 70 mg, VO, 1 vez/semana1.
RISENDRONATO
  • Comprimidos 5 e 35 mg: Actonel.
VO
  • 5 mg, VO, 1 vez ao dia1; ou
  • 35 mg, VO, 1 vez/semana1.
IBANDRONATO
  • Comprimidos 150 mg: Bonviva.
VO
  • Adultos: 150 mg, VO, 1 vez/mês1.
PAMIDRONATO
  • Ampolas 15, 30, 60 e 90 mg: Aredia, Pamidron.
IV
  • 0,5-1,0 mg/Kg/dia, IV, por 3 dias, a cada 3-4 meses1.
ZOLEDRONATO
  • Ampolas 5 mg: Aclasta.
  • Ampolas 4 mg: Zometa.
IV
  • 0,25 mg/Kg/dose, IV, a cada 3-12 meses1.
NERIDRONATO

Não disponível no Brasil.

IV
  • 2 mg/Kg/dia, IV, por 2 dias, a cada 3 meses1.
OLPADRONATO

Não disponível no Brasil

VO
  • 10 mg/m2/dia, VO1.
Fonte: ALVES et al., 2018.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. ALVES, C.A.D. et al.: Osteoporose em crianças e adolescentes. In: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Endocrinologia: Guia Prático de Atualização, n° 4 (2018).
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